O Rei da Floresta e o Coelho - Selma Lagerlöf

O Rei da Floresta e o Coelho - Selma Lagerlöf

 Leia mais contos de -> Selma Lagerlöf


Era uma vez, em uma floresta vasta e verdejante, onde as árvores se erguiam como gigantes silenciosos e os rios cantavam suavemente suas melodias, um rei soberano: o cervo. Conhecido por sua grande estatura e pelos imponentes galhos de seus chifres, o cervo era reverenciado por todos os animais da floresta. Ele governava com uma presença que inspirava respeito, mas também com uma certa arrogância que o tornava insensível às vozes dos mais humildes.


Em uma manhã dourada, o cervo reuniu todos os animais da floresta para um grande conselho. Ele se sentia poderoso, orgulhoso de sua posição, e acreditava que sua força e sua majestade eram a chave para a paz e a ordem na floresta.


"Eu sou o rei desta floresta," disse o cervo, com voz forte e confiante. "Sou o maior de todos, o mais forte e o mais sábio. Todos devem me respeitar, pois eu sou o centro deste reino."


Entre os animais presentes, um coelho pequeno e ágil ouviu essas palavras com um olhar atento. O coelho, embora pequeno e aparentemente frágil, possuía uma inteligência aguçada. Ele sabia que as aparências podiam enganar e que a verdadeira sabedoria não estava na força bruta, mas na astúcia e no equilíbrio com a natureza.


O coelho se levantou e, com sua voz calma e serena, respondeu ao cervo. "Senhor Rei," começou ele, "eu respeito sua posição e sua força, mas talvez a verdadeira grandeza não esteja apenas na sua estatura ou nos seus chifres. A verdadeira grandeza vem da capacidade de ouvir e aprender com todos, não importa o tamanho."


O cervo olhou para o coelho com um sorriso desdenhoso. "Você é pequeno e insignificante, coelho. O que sabe você sobre a grandeza e o que é necessário para governar a floresta?"


O coelho, sem se deixar intimidar, continuou: "Eu sou pequeno, é verdade, mas aprendi que a sabedoria muitas vezes está nas coisas que os grandes ignoram. Quando você anda pela floresta, senhor, o faz com passos pesados e rápidos, enquanto eu, com minha leveza, consigo ouvir os suspiros das plantas e sentir as mudanças no vento. Não são apenas os grandes que devem ser ouvidos, mas todos que habitam este reino."


O cervo, irritado com a ousadia do coelho, desafiou-o: "Se você é tão sábio, coelho, então me mostre sua sabedoria. Vamos ver quem é realmente digno de ser chamado de grande!"


O coelho, com um sorriso tranquilo, aceitou o desafio. "Vamos, então, realizar uma pequena prova. Corra comigo até o outro lado da floresta e veremos quem é mais rápido e mais ágil."


O cervo, certo de sua força e velocidade, aceitou imediatamente. Ele acreditava que sua grandeza o levaria facilmente à vitória. Eles alinharam-se no início da trilha, e, ao sinal, começaram a correr.


O cervo disparou com rapidez, como uma flecha no ar. Seu tamanho e força lhe davam uma vantagem imediata. Mas, ao contrário do que o cervo esperava, o coelho não o seguiu diretamente. Em vez disso, o coelho pegou um atalho escondido, saltando de árvore em árvore e correndo por caminhos invisíveis ao cervo.


Enquanto o cervo, com sua corrida pesada e reta, estava a ponto de alcançar o fim da trilha, o coelho, que havia seguido o caminho mais inteligente, chegou ao destino muito antes.


O cervo, surpreso e envergonhado, chegou ao ponto de chegada, só para encontrar o coelho esperando serenamente, com um sorriso no rosto.


"Veja, senhor rei," disse o coelho, "não é sempre a força bruta que nos leva à vitória, mas a astúcia e a sabedoria de perceber o mundo de forma diferente. A verdadeira grandeza não reside apenas na aparência ou no poder físico, mas na habilidade de adaptar-se, aprender com os outros e, sobretudo, ouvir."


O cervo, tocado pelas palavras do coelho, percebeu que, embora fosse grande e forte, ainda tinha muito a aprender. A partir daquele dia, ele passou a ser mais humilde e a ouvir mais atentamente os animais da floresta, reconhecendo que cada um, independentemente de seu tamanho, tinha algo valioso a oferecer.


E assim, a floresta prosperou sob a liderança de um rei que havia aprendido a verdadeira grandeza não apenas pela força, mas pela sabedoria e pela humildade.


Moral da história: A verdadeira grandeza não está apenas na força física ou no poder. Ela reside na sabedoria, humildade e na capacidade de aprender com todos, independentemente do tamanho ou status.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts

O Cavalo e o Carvalho - Lady Gregory