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No coração do Mato Grosso, entre as sombras cerradas das matas e os campos abertos do cerrado, vivia um velho tamanduá-bandeira chamado Bastião. Seu focinho longo era como uma seta apontando sempre para a terra, e sua cauda, espessa e farta, parecia varrer o chão por onde andava. Bastião era respeitado por sua sabedoria, mas também era conhecido por sua lentidão — uma lentidão que não era preguiça, e sim cuidado.
Todos os anos, com a chegada da estação seca, Bastião atravessava a mesma estrada de asfalto para buscar cupins do outro lado da mata. Aquele trecho da BR-070, cortando o bioma como uma cicatriz escura, era o maior perigo para os animais da região. Muitos não voltavam. Corujas o chamavam de "faixa da morte". Os tatus, como o tatu-peba do Tocantins, evitavam-na. Mas Bastião, experiente, fazia a travessia com calma, como quem conhece o tempo das coisas.
Certo dia, uma jovem ariranha do Pantanal, chamada Luma, encontrou Bastião preparando-se para mais uma de suas travessias.
— Por que arriscar sua sobrevivência por alguns cupins, senhor tamanduá? — perguntou ela, com os olhos arregalados.
— Porque é do outro lado que estão os cupinzeiros que minha família visita há gerações. Mas não é só comida que busco... há uma lição nessa estrada — respondeu Bastião, já avançando devagar em direção à beira do asfalto.
Luma ficou curiosa e decidiu segui-lo à distância. Do alto de uma árvore, um gavião-real do Pará observava tudo em silêncio, acostumado a ver acidentes e atropelamentos. “Outro tolo atravessando a faixa dos humanos”, murmurou.
No meio do caminho, Bastião parou. Sentiu a vibração do chão. Um caminhão se aproximava. Ele recuou com paciência, esperou o barulho cessar, e então avançou mais dois passos. Assim seguia, sentindo o ritmo do chão e do ar, com a paciência de quem entende que pressa e vida nem sempre combinam.
1. O Papagaio-Charão e o Segredo do Galho Partido
2. A Tartaruga-de-Couro e a Areia que Sumia
3. O Macaco-Prego e a Fruta que Não Era Sua
4. A Anta e os Trilhos do Chão Cortado
5. A Onça-Pintada e os Três Ecos
6. O Tucano-de-Bico-Preto e a Promessa no Alto da Árvore
7. A Lontra e os Rastros na Lama
8. O Cágado e o Peso da Culpa
9. O Tamanduá-Bandeira e a Travessia do Asfalto
10. A Maritaca e o Silêncio do Fim de Tarde
Enquanto isso, do outro lado da mata, um jovem tamanduá chamado Zico, recém-chegado do norte do Goiás, se aproximou da estrada. Zico era impetuoso, curioso e rápido — o oposto de Bastião. Sem pensar muito, olhou para os dois lados e saiu correndo.
Um carro quase o atropelou.
Assustado, Zico caiu de lado, e Bastião correu — ou melhor, andou o mais rápido que pôde — para ajudar o jovem.
— A estrada não é só uma linha no chão, rapaz. É um teste de paciência e atenção — disse o velho tamanduá.
Zico, ainda tremendo, pediu para ouvir mais sobre isso. Então Bastião contou uma história antiga, passada por seus ancestrais:
“Diziam que, quando o homem construiu o primeiro caminho de pedra, os animais não entenderam o que aquilo significava. Mas logo perceberam que, ao cruzar aquele caminho, era preciso mudar o passo, o olhar, o pensamento. E quem não aprendesse a escutar o mundo em volta, seria engolido por ele.”
Zico ficou em silêncio. Pela primeira vez, entendeu o que era cuidado, não como medo, mas como sabedoria.
Naquele mesmo dia, Luma ajudou os dois a atravessarem de volta, avisando com assobios cada vez que um carro se aproximava. O trio chegou ileso ao outro lado e descansou à sombra de um ipê.
Mais tarde, Bastião disse:
— A travessia mais difícil não é a da estrada. É a que fazemos dentro de nós, entre a imprudência e o entendimento.
No fim daquela tarde quente do cerrado, enquanto o céu se pintava de laranja e violeta, os três animais prometeram ensinar os mais novos sobre o tempo certo das coisas. Nas escolas naturais do Mato Grosso, começou-se a ouvir histórias sobre um velho tamanduá-bandeira que enfrentava o asfalto com mais sabedoria do que coragem.
A lição passou a circular entre os animais como vento entre folhas.
Moral da história
A pressa é inimiga da sobrevivência. Em um mundo cheio de perigos criados pelo homem, é o cuidado — e não a velocidade — que garante a vida.
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