#FábulasInfantis #FábulaInfantil #Fábulas #Fábula #ErdnaZiulSedranreb #HistóriaParaCrianças #preguiça #floresta #sabedoria #faunabrasileira #Pará #liçãodemoral #infantil #macacoprego #ética #Bahia #faunabrasileira #valoresinfantis #respeito
☕DOE UM CAFÉ
Na copa das árvores da Mata Atlântica da Bahia, onde a luz do sol brinca entre as folhas e o som do vento carrega os segredos dos antigos, vivia um jovem macaco-prego chamado Muri.
Muri era esperto, ágil e curioso. Nenhum galho lhe escapava, nenhum som passava despercebido, e nenhum fruto amadurecia sem que ele percebesse. Ele conhecia o valor do tempo, mas ainda não compreendia o valor do que era dos outros.
Num final de manhã abafada, enquanto saltava entre as árvores, Muri sentiu um aroma doce, quase mágico. Seguiu o cheiro até encontrar uma fruta de aparência rara, com casca dourada e polpa alaranjada. Ela estava num galho baixo, reluzente sob o sol.
“Que delícia me espera!” disse Muri, esfregando as mãos.
Era uma jacutinga, ave ameaçada e vigilante, que havia migrado do Espírito Santo. Ela observava a fruta com olhos tranquilos, mas firmes.
“Não está com seu nome,” respondeu Muri, tentando rir da situação. “Estava aqui, madura, ao alcance da minha pata. É da floresta, e a floresta é de todos, não é?”
1. O Papagaio-Charão e o Segredo do Galho Partido
2. A Tartaruga-de-Couro e a Areia que Sumia
3. O Macaco-Prego e a Fruta que Não Era Sua
4. A Anta e os Trilhos do Chão Cortado
5. A Onça-Pintada e os Três Ecos
6. O Tucano-de-Bico-Preto e a Promessa no Alto da Árvore
7. A Lontra e os Rastros na Lama
8. O Cágado e o Peso da Culpa
9. O Tamanduá-Bandeira e a Travessia do Asfalto
10. A Maritaca e o Silêncio do Fim de Tarde
Curioso, Muri pediu explicações. Bemo então contou uma história antiga, passada por seus ancestrais nas noites sob o luar:
“Houve um tempo em que todos comiam tudo o que viam. Mas veio uma seca. Só o veado-mateiro guardava raízes e folhas em buracos no chão. Quando a seca apertou, os outros quiseram pegar seus alimentos. Ele disse: ‘Não me negarei a compartilhar, mas se nada for de ninguém, ninguém cuidará de nada. E todos perderemos.’”
Muri coçou a cabeça. “Mas se eu tivesse com muita fome?”
“Você poderia pedir,” disse a jacutinga.
“E se ela dissesse não?”
“Você aprenderia a esperar. Porque o respeito não é só o que damos — é o que nos ensina a viver juntos.”
Naquela tarde, Muri foi até Velina, a cotia cuidadosa. A encontrou em sua toca, limpando sementes de jatobá.
“Velina… sobre aquela fruta... Eu quase a peguei.”
Ela o encarou sem surpresa. “Você não é o primeiro. Muitos acham que fruta madura é de ninguém. Mas plantei aquela há três estações.”
“Por que faz isso?” perguntou Muri.
“Porque a floresta me deu sombra. Eu retribuo com sementes. Se eu não cuidar da terra, quem cuidará por mim?”
Muri ficou em silêncio.
Nos dias que seguiram, ele começou a observar. Percebeu quantos animais cultivavam, não apenas para si, mas para os outros: os tamanduás que desciam com cuidado para não esmagar formigueiros úteis, os tatus que cavavam canais que drenavam água para o ninho das jararacas, e até o urubu-rei que limpava carcaças para evitar doenças.
Foi quando uma coisa estranha aconteceu: Muri passou a plantar.
Com ajuda de Velina, começou a enterrar sementes de frutas que não comia. Deixava algumas em galhos mais baixos, para os filhotes. Quando outros macacos lhe perguntavam o motivo, ele dizia:
“Plantar me ensinou o que pegar não me ensinava.”
“Não,” disse Muri. “Aprendi que a propriedade que nasce do cuidado gera respeito. E onde há respeito, há espaço para todos.”
A onça refletiu em silêncio. No alto da árvore, a jacutinga sorriu com os olhos.
E quando a nova estação chegou, os filhotes de bicho-preguiça comeram das frutas de Muri. E ao invés de guardar rancor do passado, ele lhes contou a história da fruta que quase foi dele — mas que lhe ensinou a ser melhor.
Na floresta da Bahia, o rumor se espalhou: o macaco-prego que aprendia a plantar agora ensinava a colher com ética. E sob cada árvore que ele ajudava a crescer, havia uma placa de folhas amarradas com cipó:
“Esta fruta não é sua. Mas talvez um dia seja — se você cuidar da árvore.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário