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No coração da Amazônia, entre as árvores centenárias do Parque Nacional do Jaú, morava um jovem tucano-de-bico-preto chamado Tarek. Seu bico reluzente, escuro como a noite nova, cortava o vento com graça, e suas penas pareciam ter sido tingidas com o sol do meio-dia. Tarek era admirado por sua beleza e sua palavra firme — pelo menos era o que todos acreditavam.
Desde cedo, Tarek ouvira dos mais velhos que um compromisso era como uma semente lançada no alto de uma árvore: podia parecer leve, mas com o tempo criava raízes invisíveis no coração de quem a fez. E por isso, devia ser plantado com cuidado. Mas Tarek, jovem e cheio de si, não levava a sério essas palavras antigas.
Certa manhã, em meio ao aroma fresco das flores do guaraná silvestre, Tarek foi chamado por um velho urutau, ave mística e solitária do Acre. O urutau, de olhos profundos e fala pausada, pediu ajuda. Havia um antigo ninho de corujinhas ameaçado por um galho seco, prestes a cair. “Preciso que alguém vá lá no entardecer e empurre o galho de volta ao tronco com o bico. Só confio em você para isso, Tarek. Promete que irá?”
Tarek respondeu com um bater de asas: “Eu prometo.” E com isso, o urutau fechou os olhos em paz.
Mas quando o entardecer chegou, Tarek se distraiu. Havia uma reunião de aves canoras na copa das sumaumeiras e, vaidoso, quis exibir seu canto. Enquanto ele rodopiava no céu, o galho cedeu, e o ninho caiu. As corujinhas escaparam por pouco, mas o susto foi grande. O urutau, ao saber, calou-se por dias inteiros. E Tarek, sem coragem de enfrentar os olhos dos outros, voou para longe.
Durante semanas, refugiou-se nos buritizais do Tocantins, onde conheceu um jaburu, ave altiva e serena. O jaburu ouviu sua história com paciência e, ao fim, disse: “Uma promessa quebrada é como o som que não ecoa — pode parecer que não feriu ninguém, mas é sentida onde a confiança foi depositada.” E contou-lhe uma história antiga.
1. O Papagaio-Charão e o Segredo do Galho Partido - Erdna Ziul Sedranreb
2. A Tartaruga-de-Couro e a Areia que Sumia - Erdna Ziul Sedranreb
3. A Onça-Pintada e os Três Ecos - Erdna Ziul Sedranreb
4. A Anta e os Trilhos do Chão Cortado - Erdna Ziul Sedranreb
5. O Macaco-Prego e a Fruta que Não Era Sua - Erdna Ziul Sedranreb
6. O Tucano-de-Bico-Preto e a Promessa no Alto da Árvore - Erdna Ziul Sedranreb
7. A Lontra e os Rastros na Lama - Erdna Ziul Sedranreb
8. O Cágado e o Peso da Culpa - Erdna Ziul Sedranreb
9. O Tamanduá-Bandeira e a Travessia do Asfalto - Erdna Ziul Sedranreb
10. A Maritaca e o Silêncio do Fim de Tarde - Erdna Ziul Sedranreb
11. O Segredo da Árvore que Sussurra - Erdna Ziul Sedranreb
12. As Pegadas do Lobo Solitário - Erdna Ziul Sedranreb
13. O Canto do Pássaro que Não Voava - Erdna Ziul Sedranreb
14. A Jornada Lenta da Tartaruga Valente - Erdna Ziul Sedranreb
15. O Leão que Dividia o Sol - Erdna Ziul Sedranreb
16. O Barco do Peixe Sonhador - Erdna Ziul Sedranreb
17. A Abelha que Encontrou o Caminho - Erdna Ziul Sedranreb
18. A Girafa que Aprendeu a Ouvir - Erdna Ziul Sedranreb
19. O Elefante que Esqueceu o Medo - Erdna Ziul Sedranreb
20. O Tesouro Escondido da Raposa Esperta - Erdna Ziul Sedranreb
21. A Formiga que Dançava com o Vento - Erdna Ziul Sedranreb
22. O Corvo que Colecionava Sombras - Erdna Ziul Sedranreb
23. O Peixe que Nadava Contra a Corrente - Erdna Ziul Sedranreb
24. A Árvore que Contava Estrelas - Erdna Ziul Sedranreb
25. O Rato e o Labirinto de Folhas - Erdna Ziul Sedranreb
26. A Pedra que Rolou Sozinha - Erdna Ziul Sedranreb
27. O Pássaro que Não Voava Alto - Erdna Ziul Sedranreb
28. A Tartaruga e o Rio Paciente - Erdna Ziul Sedranreb
29. O Coelho que Escutava o Vento - Erdna Ziul Sedranreb
30. A Jornada do Pequeno Girassol - Erdna Ziul Sedranreb
A história era sobre o macaco-aranha-do-Pará, que prometeu guardar os frutos da castanheira enquanto seus irmãos iam buscar ajuda. Não resistiu à fome e comeu os frutos. Quando os irmãos voltaram, ele disse que os frutos haviam sido levados pelo vento. Mas o vento não mente, e dias depois, sementes não digeridas brotaram sob sua árvore. A verdade, que ele tentou enterrar, nasceu diante de todos.
Tarek voltou para a floresta com essa imagem na mente: verdades nascendo onde ele pensou que a culpa morreria. Procurou o urutau. Sentou-se em silêncio por três dias diante dele. No quarto dia, disse apenas: “Falhei.”
O urutau, com olhos ainda tristes, respondeu: “Uma palavra dita no alto de uma árvore tem que ser mais forte que o vento. Não porque ela será ouvida por muitos, mas porque será sustentada por você.”
Tarek não respondeu. Em vez disso, começou a reparar os ninhos caídos da floresta. Ajudou o gavião-real do Amazonas a reconstruir sua plataforma. Levou fibras secas para o ninho das maracanãs-do-Maranhão. Trabalhou em silêncio, sem esperar perdão — mas buscando sentido.
Meses depois, uma nova árvore foi plantada no centro da clareira. Em seu topo, o urutau deixou um ramo seco, como lembrança do erro. Tarek, com o bico firme, empurrou o galho de volta ao tronco — não para apagar o passado, mas para honrar o que prometeu um dia.
Desde então, diz-se que o tucano-de-bico-preto, quando canta alto no fim da tarde, não está se exibindo. Está lembrando aos outros que promessas são vozes que precisam chegar mais longe do que as copas.
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