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A Jaguatirica que Temia o Silêncio

A Jaguatirica que Temia o Silêncio
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No coração verde da Floresta Amazônica, onde o ar é denso e cheio de mistérios, vivia uma jaguatirica chamada Lua. Ela era ágil e curiosa, dona de uma pelagem que brilhava com as cores da noite estrelada. Mas Lua tinha um medo que ninguém imaginava: o medo do silêncio.

Enquanto muitos animais da floresta aproveitavam os momentos de calmaria para descansar ou pensar, Lua sentia-se inquieta. Para ela, o silêncio era uma espécie de vazio assustador, um lugar onde o perigo parecia espreitar.

— Por que você está sempre fazendo barulho, Lua? — perguntava seu amigo Tatú-canastra do Pará, chamado Rato. — A floresta é feita também para ouvir o silêncio.

— Eu não sei escutar o silêncio — confessou Lua, jogando o rabo entre as pernas.

Numa manhã úmida, Lua caminhava perto de um rio quando ouviu um som diferente. Não era o canto do galo-da-serra, nem o chamado do macaco-prego. Era um sussurro suave, como se a floresta estivesse contando um segredo.

Curiosa, Lua decidiu seguir aquele som até encontrar uma velha coruja-do-mato, chamada Mara, que vivia em uma árvore antiga, tão alta que parecia tocar as nuvens.

— Olá, Mara — disse Lua, tentando disfarçar seu nervosismo.

— Bem-vinda, Lua. Vejo que veio buscar o que o silêncio esconde.

— Mas eu tenho medo do silêncio. Ele parece tão vazio, tão solitário.

Mara sorriu.

— O silêncio não está vazio. Ele é cheio de coisas que os olhos não veem e as palavras não dizem. Para escutá-lo, é preciso aprender a olhar para dentro.

Lua franziu o cenho.

— Olhar para dentro? Como assim?

A coruja começou a contar uma história antiga:

— Houve um bicho-preguiça do Maranhão, que sempre fugia dos sons altos da floresta. Um dia, quando tudo ficou silencioso, ele sentiu medo e solidão. Mas ao se entregar ao silêncio, descobriu que dentro dele havia uma paz que nunca conhecera.

Lua ouviu, encantada, mas ainda insegura.

Nos dias seguintes, decidiu tentar algo novo. Quando a floresta ficava silenciosa, em vez de fugir, ela parava. Sentava-se na sombra das árvores e tentava escutar.

No começo, tudo o que sentia era seu próprio coração batendo acelerado.

— Não é fácil — pensava — mas algo está mudando.

Com o tempo, ela começou a perceber o som das folhas caindo, o zumbido distante de uma abelha, o bater das asas de um beija-flor, o murmúrio da água no riacho.

— Isso é o silêncio? — perguntou, maravilhada.

— Sim — respondeu Rato, que aparecera para observar sua amiga — o silêncio é uma forma de escuta que traz a floresta para perto de você.

Lua continuou sua jornada de introspecção. Aprendeu que o silêncio não é inimigo, mas aliado. Descobriu que ao escutá-lo, podia compreender melhor seus sentimentos, seus medos e, principalmente, a si mesma.

Em uma noite estrelada, sentada junto à margem do rio, Lua falou:

— Eu entendi que o silêncio não me deixa sozinha. Ele me ensina a escutar e a viver em harmonia com tudo ao meu redor.

Rato sorriu e disse:

— E assim, a convivência entre nós fica mais verdadeira, porque o silêncio também fala.

Com o passar do tempo, Lua tornou-se uma guia para outros animais inquietos. Contava sobre a força do silêncio e ensinava que ouvir com atenção é tão importante quanto falar.

Entre as árvores altas da Floresta Amazônica do Pará, onde o canto dos pássaros e o barulho do vento compõem uma sinfonia, a estória da jaguatirica que temia o silêncio passou a ser contada como um lembrete de que:

"A verdadeira escuta começa quando o medo do silêncio acaba. E a convivência se fortalece quando aprendemos a ouvir não só com os ouvidos, mas com o coração."

E assim, Lua viveu, correndo e caçando, mas também em paz com o silêncio que antes temia, transformando seu medo em sabedoria para toda a floresta.


A Lontra e os Rastros na Lama - Erdna Ziul Sedranreb

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Às margens tranquilas de um afluente do rio Tapajós, no coração do Pará, vivia uma jovem lontra chamada Luma. Curiosa, ágil e brincalhona, Luma era conhecida por todos os animais da floresta por sua inteligência, mas também por uma atitude um tanto imprudente: ela fazia o que bem queria, sem pensar nas consequências de suas ações.

Certo dia, após uma forte chuva, as margens do rio estavam cobertas de lama espessa. Luma correu e deslizou pelas poças como de costume, deixando rastros por todo lado. No entanto, desta vez, seus rastros se cruzaram com os de outros animais: uma suçuarana que caçava silenciosamente, uma preguiça que havia descido à terra firme, e até mesmo uma rara ariranha do Maranhão que visitava o rio em busca de um novo lar.

Esses rastros não importam”, disse Luma, rindo. “A lama vai secar, o rio vai levar tudo embora.” Mas nem todos concordavam. Um velho tamanduá-bandeira do Amapá, que observava de longe, advertiu: “Nem toda marca desaparece com a correnteza. Algumas viram lembrança. Outras, consequência.”




Luma ignorou o conselho. À noite, foi dormir em sua toca, rindo das pegadas na margem. No dia seguinte, ao sair para caçar, percebeu que algo havia mudado. O silêncio era denso. As aves do sul, como o sabiá-poca do Espírito Santo, não cantavam. O peixe-boi da Amazônia não havia voltado ao lago. E seu melhor amigo, o jabuti-piranga, desaparecera.

Preocupada, seguiu os rastros na lama — os seus e os dos outros. Foi quando descobriu, com o coração apertado, que a suçuarana, desorientada por rastros sobrepostos, havia atacado a ariranha visitante. O jabuti, tentando ajudar, fora ferido e levado pelas correntezas.

Devastada, Luma se refugiou numa clareira onde morava um animal quase mítico da floresta: o jacu-cigano, ave nativa do Amazonas, conhecida por sua sabedoria ancestral. O jacu ouviu atentamente e disse: “Toda escolha que fazemos deixa um rastro. Não na lama, mas nos caminhos dos outros. E às vezes, esses rastros viram cicatrizes.

Tomada pela culpa, Luma decidiu fazer algo que jamais pensara antes: limpar, reparar, refazer. Visitou a ariranha ferida, levou folhas cicatrizantes do jenipapo e cuidou dela até que pudesse nadar novamente. Procurou o jabuti rio abaixo, resgatando-o entre os galhos de uma figueira-do-brejo. Pediu perdão à suçuarana por tê-la confundido.


Durante semanas, percorreu as margens do rio, educando filhotes de cotia, pacas e até o escorregadio muçum do Tocantins sobre a importância dos rastros — não os físicos, mas os das atitudes. Ela criou trilhas seguras, sinalizou áreas perigosas e ouviu histórias de outros animais sobre erros, perdões e recomeços.

Numa dessas conversas, ouviu do mutum-do-sudeste: “A vida é como a lama do rio. Parece que tudo vai sumir com o tempo, mas a memória do que fizemos fica gravada nas margens do coração dos outros.





E assim, Luma tornou-se uma lenda. Não pela sua esperteza inicial, mas pela sua transformação. Os bichos vinham de longe — do cerrado goiano, da caatinga baiana, do pantanal mato-grossense — para ouvir a estória da lontra que aprendeu a ler os rastros da alma.

Hoje, nas escolas da floresta, os filhotes de tatu-canastra, anta e até o tímido morcego-pescador do Acre aprendem: não é a força da chuva que apaga os rastros, mas a força das escolhas que os mantém vivos ou os transforma em caminhos de esperança.


Moral da fábula
Cada atitude que tomamos deixa um rastro — visível ou não. Pensar antes de agir é respeitar o caminho do outro. Porque, no fim, a lama seca, mas as consequências permanecem nas margens da memória.


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