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Nas águas mornas e calmas dos rios do Amapá, onde o verde das árvores reflete nas águas claras, vivia um peixe-boi chamado Bento. Bento era diferente dos seus parentes, que gostavam de repousar tranquilamente em águas paradas, deixando a vida fluir lentamente.
Mas Bento tinha uma inquietação rara para um peixe-boi: ele não gostava das águas paradas.
— Por que você está sempre nadando, Bento? — perguntava a velha tucuxi do Amapá, chamada Marina.
— Não sei... Acho que o rio é para se mover, não para ficar parado. Eu quero sentir a corrente, a mudança, o movimento. Quero descobrir o que está além do lugar onde estou — respondeu Bento, com olhos brilhantes.
Os outros peixes-bois riam, pois preferiam a lentidão e a calma das águas imóveis. Para eles, a vida era feita de paciência e descanso.
Mas Bento não conseguia se acomodar.
Um dia, durante uma forte chuva de verão, o rio começou a mudar. As águas subiram, levaram galhos, folhas, e transformaram a paisagem conhecida.
— Bento, é hora de seguir o rio — disse Marina, com a voz sábia de quem já viu muitas marés.
— Mas para onde? — perguntou Bento, apreensivo.
— Para onde a vida te levar. A mudança é parte da sabedoria de quem vive no rio.
Então, Bento resolveu partir. Não sabia exatamente o destino, apenas sentia que precisava se mover.
Enquanto nadava, lembrou da história do jacaré-açu do Pará, contada por Marina:
— Ele também temia a mudança, até que o rio o levou para novas margens, onde encontrou alimento, amigos e um novo jeito de viver.
No caminho, Bento encontrou vários animais. Conheceu a alegre ariranha do Amapá, que ensinou a importância de brincar e adaptar-se às correntes do rio. Viu o voo leve do gavião-pescador do Pará, que mostrava que mesmo na lentidão há poder.
Mas Bento sentia que ainda faltava algo.
Certa tarde, cansado, descansou em um tronco flutuante e refletiu:
— Talvez o movimento não seja só nadar rápido... Talvez seja entender quando ir, quando ficar, e quando esperar.
Com essa sabedoria nova, Bento continuou, agora mais calmo, atento não só à velocidade, mas ao ritmo do rio e da vida.
Ao retornar para sua família, Bento percebeu que a lentidão também tem seu valor. Que a mudança não precisa ser apressada, mas respeitada com paciência.
— A vida é um rio, Bento — disse Marina, sorrindo — às vezes calma, às vezes agitada, mas sempre em movimento.
Bento agora sabia que o segredo era a adaptação, o equilíbrio entre movimento e descanso, e que toda mudança traz consigo uma lição.
A lição de moral da fábula corre como as águas do Amapá:
“A sabedoria está em entender que movimento e pausa são faces da mesma vida. Adaptar-se é fluir com o rio, respeitando seus ritmos e mudanças.”
E assim, nas águas serenas e nos cantos vivos do Amapá, o peixe-boi Bento virou símbolo de coragem para quem teme a mudança, mostrando que a verdadeira força está em saber quando avançar e quando esperar.
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