Um cachorro de maus bofes acusou uma pobre ovelhinha de lhe haver furtado um osso.
- Para que furtaria eu esse osso - alegou ela - se sou herbívora e um osso para mim vale tanto quanto um pedaço de pau?
- Não quero saber de nada. Você furtou o osso e vou já levá-la aos tribunais.
E assim fez. Queixou-se ao gavião-de-penacho e pediu-lhe justiça. O gavião reuniu o tribunal para julgar a causa, sorteando para isso doce urubus de papo vazio.
Comparace a ovelha. Fala. Defende-se de forma cabal, com razões muito irãs das do cordeirinho que o lobo em tempos comeu.
Mas o júri, composto de carnívoros gulosos, não quis saber de nada e deu a sentença:
- Ou entrega o osso já e já, ou condenamos você à morte!
A ré tremeu: não havia escapatória!... Osso não tinha e não podia, portanto, restituir; mas tinha vida e ia entregá-la em pagamento do que não furtara.
Assim aconteceu. O cachorro sangrou-a, espostejou-a, reservou para si um quarto e dividiu o restante com os juízes famintos, a título de custas...
Fiar-se na justiça dos poderosos, que tolice!... A justiça deles não vacila em tomar do branco e solenemente decretar que é preto.
Interpretação e moral da história
A fábula do julgamento da ovelha problematiza a questão da verdade, da justiça, da ética (e também da falta dela). Apesar de ser um tema duro, ele é oferecido para a criança de modo bastante acessível e com alguma sensibilidade.
A criança se identifica com a protagonista da história - sente-se na pele da ovelha - e se percebe incapaz de sair da situação em que colocaram o pobre animal. Muitas das vezes o leitor consegue associar essa situação com algum momento vivido em que foi acusado sem ter tido culpa nenhuma do que se passou.
A fábula introduz no pequeno leitor a noção de injustiça e apresenta o lado menos bom das pessoas, que muitas vezes colocam os seus interesses pessoais acima da do que é correto.
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