O Salgueiro e a Vinha - Leonardo da Vinci

O Salgueiro e a Vinha - Leonardo da Vinci

Era uma vez um pobre salgueiro que jamais tivera a alegria de ver seus ramos erguendo-se alto em direção ao céu. Em primeiro lugar havia uma vinha enroscada em seu tronco, e havia também outras parasitas. Sempre acontecia algo que o impedia de crescer e freqüentemente ele se via quebrado e mutilado.


Juntando todas as suas forças, o salgueiro pôs-se a sonhar e depois a pensar na melhor maneira de livrar-se daquela escravidão.


Pensou e tornou a pensar em cada uma das plantas que o cercavam e nas necessidades peculiares a cada uma delas, de modo a encontrar finalmente, uma que nunca precisasse apoiar-se nos ramos de um pobre salgueiro.


Ruminou esses pensamentos dia após dia até que finalmente teve uma ideia e encontrou uma solução.


- Sim, é claro... A abóbora!


Radiante, o salgueiro agitou os ramos. A abóbora era realmente a companheira ideal, pois era mais apta a dar apoio aos outros que a apoiar-se em alguém. Uma vez feita a escolha, o salgueiro estendeu seus ramos em direção ao céu, na esperança de que algum pássaro amigo o visse. Nesse exato momento veio vindo uma pega. Imediatamente o salgueiro chamou-a e disse:


- Querido pássaro, espero que você não tenha esquecido a ajuda que lhe dei há alguns dias atrás, naquela manhã em que um malvado falcão queria devorá-la, e você escondeu-se nos meus galhos. E espero que se lembre de todas as vezes que você descansou em mim, quando suas asas estavam cansadas, e de quanto já se divertiu brincando em meus ramos com suas companheiras. Por tudo isso, querido pássaro, espero que você não recuse o favor que vou lhe pedir. É o seguinte: suplico-lhe que procure uma abóbora e peça-lhe que lhe dê algumas sementes. E eu direi a essas sementes que não tenham medo de mim. Quando seus brotos crescerem eu os tratarei como se fossem meus próprios filhos. Imploro-lhe - acrescentou o salgueiro - que escolha cuidadosamente as palavras. Convença a abóbora a lhe dar as sementes e persuada as sementes a virem amigavelmente com você. Você é mestra em belas palavras, amiga pega, e não preciso ensinar-lhe o que deve dizer. Se você me fizer esse grande favor, terei o maior prazer em deixar você construir seu ninhos em meus ramos e em cuidar dele e de toda a sua família sem lhe cobra nada.


Em seguida a pega fez um pacto com o salgueiro e ele prometeu formalmente não deixar ficarem em seus ramos nem serpentes nem doninhas.


Então a pega baixou a cabeça, ergueu o rabo e mergulhou da árvore jogando todo o peso de seu corpo sobre as asas. Atravessando o ar com rápidas batidas de asas e usando o rabo como se fosse um leme para virar à direita e à esquerda, encontrou finalmente uma abóbora.


- Meus cumprimentos - disse a pega para a abóbora - e minhas saudações.


Acrescentou muitas outras palavras amáveis e delicadas e terminou pedindo as sementes tão desejadas pelo salgueiro.


Quando obteve as sementes voltou para junto da árvore amiga, que a recebeu com alegria.


- Agora você precisa plantá-las - disse o salgueiro.


A pega voou depressa para o chão, escavou a terra aos pés do salgueiro, pegou as sementes com o bico e plantou-as uma a uma em volta do tronco.


Em breve as sementes brotaram e os pequenos pés de abóbora nasceram e continuaram a crescer, espalhando novos galhos que aos poucos aprisionaram todos os ramos no salgueiro. Além disso, as grandes folhas dos pés de abóbora impediam que a árvore pudesse ver toda a beleza do céu e do Sol.


Como se isso tudo não bastasse, quando as abóboras cresceram, seu peso puxou para baixo, em direção à terra, os pequenos brotos das pontas do salgueiro, machucando-os e estragando-os. O salgueiro tentou em vão remexer-se e agitar-se para se livrar das abóboras. Durante dias contorceu-se, convicto de que estava se libertando. Estava tão desesperado que nem chegou a perceber que as abóboras estavam presas a ele com tantos nós que ninguém jamais conseguiria soltá-las.


Ao ver o vento passar o salgueiro gritou de dor e pediu socorro.


O vento ouviu e soprou com mais força.


Então o tronco, privado de alimento pelas abóboras, partiu-se em dois até à raiz. Uma parte do salgueiro caiu para um lado e a outra metade para o lado oposto. Chorando de infelicidade o salgueiro chegou à conclusão de que não nascera sob uma boa estrela.


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